A Nação que não esperou por Deus
Há filmes que não são suficientes para relatar diferentes versões sobre histórias reais. Um dos exemplos mais célebres são as produções dirigidas pelo norte-americano Clint Eastwood em 2006.
“A Conquista da Honra” e “Cartas Para Iwo Jima” tratam da Batalha de Iwo Jima no Japão, mas com perspectivas de vencedor e vencido.
Não tão longe da proposta de Eastwood, a diretora brasileira Lucia Murat produziu entre 2013 e 2014 o documentário A Nação que não esperou por Deus. O projeto marca a volta de Murat a tribo dos Kadiwéu, no Mato Grosso.
A primeira vez que Murat esteve no local foi em 1999, durante a produção do longa Brava Gente Brasileira.
Esse filme contou com a participação dos índios e segundo a própria diretora relevou, era necessário registrar a cultura desse povo e as mudanças vivenciadas por eles nesses 15 anos.
O documentário de 88 minutos é resultado de 17 anos de filmagens e convivência com os índios Kawiéu. Em mais de uma década a aldeia no Mato Grosso do Sul acompanhou a chegada da luz elétrica.
A televisão também passou a fazer parte do cotidiano da tribo, bem como os produtos culturais exibidos nesse meio de comunicação.
A religião foi outra a sofrer mudanças. Os índios viraram pastores e a reserva possui hoje, diferentes igrejas evangélicas. Aqui vale destacar a influência na escolha do nome do documentário dirigido por Murat.
Algo que permaneceu intacto – e ganhou mais força nos últimos anos – foi o desejo dos índios em lutar pela demarcação de suas terras, dando novos contornos a velha luta com os pecuaristas da região mato-grossense.
Projeto de longa duração
Antes de Murat filmar “Brava Gente Brasileira”, os índios Kadiwéu já haviam sido estudados pelo antropólogo Levi Strauss e pelo sociólogo brasileiro Darcy Ribeiro.
Os materiais coletados por essa dupla serviram de norte para a pesquisa da diretora na então fase de pré-produção da película nos anos 90.
Mesmo após a finalização do filme em 1999, Murat não deixou de manter contato com os índios e acompanhou as mudanças da tribo por mais de uma década.
Com tanto material coletado, a ideia de produzir o documentário ao lado de Rodrigo Hinrichsen – assistente de direção de Brava Gente Brasileira – não demorou a ganhar corpo.
História do Brasil não visto
Assim como “Brava Gente Brasileira” serviu para mostrar aos brasileiros um pouco de sua história, A Nação que não esperou por Deus cumpre seu papel ao trazer a público o registro de um Brasil não visto e constantemente ignorado pela grande mídia.
Falar das tribos e de suas lutas contra os ruralistas deve ser levado a sério e Murat não titubeia ao fazer coro à voz dos Kawiéu.
O documentário tem 88 minutos de duração e será lançado no segundo semestre deste ano. A Nação que não esperou por Deus é uma produção da Taiga Filmes e Vídeo e da Costa do Castelo e foi patrocinada pela Ancine.